segunda-feira, maio 23, 2011

(Ir)realidade (des)construída

Fechei os olhos no elevador. O movimento vertical embalava-me. Não faço ideia se subia ou descia, mas de repente já não estava ali. O luz forte do sol fazia-me semi-cerrar os olhos. Mas sei bem onde estava.  A boa música e as excelentes companhias deixavam-me no rosto um sorriso tão luminoso como a luz que me obrigava a baixar as pálpebras, ainda que me sorrisse por cima do meu ombro esquerdo. Sempre divertidos, viajávamos há pouco mais de duas horas num ambiente espectacular. O carro velho, não me lembro bem da cor mas julgo que fosse vermelho ou preto (estou mais inclinada para a segunda hipótese) aguentava uma pedalada sem demasiadas pressas, sem intuito de nos levar a lado nenhum. Talvez parássemos num sítio que considerássemos bom para passar a noite. Olhei pela janela. Não me lembro do cenário anterior, mas este, este era qualquer coisa fora do normal. O carro seguia por uma estrada que curvava suavemente e em constância para a direita e eu, sentada do lado esquerdo da parte de trás do carro, vi toda aquela imensidão e senti-me pequena e maravilhada. Extasiada por um azul vivo, ligeiramente ondulante e, sem exagerar, a perder de vista. Uma curiosa perspectiva, pois parecia-me poder ver mais do que seria permitido pelas leis da física para que a água não nos atingisse. E lá ao longe, bem longe, uma fileira de casas brancas, do tamanho das pontas dos meus dedos, mas tão definidas como se estivesse a dois passos delas. O sol que me espreitava continuamente por cima do ombro esquerdo, como se viajasse connosco, enriquecia os seus tons imaculados com uma paleta de tons brilhantes completamente surreal. O céu estava limpo e azul, completando um quadro que parecia quase simétrico. O meu sorriso nunca chegou a desaparecer. Aconteceu tudo demasiado depressa para que o meu corpo reagisse ao que os olhos viram e o cérebro processou. A estrada desceu. A curva continuava perfeita, mas seguia em direcção ao profundo azul da água. A suavidade com que chegámos à água nunca me deixou perceber se o carro saira da estrada ou a estrada nos conduzira à água. O facto é que quando as rodas tocaram na água, não havia mais estrada. A parte dianteira do carro entrou na água. "Vou morrer afogada", pensei com uma calma incompreensível. A água tranpôs-me a cabeça e acordei. A tremer, em choque, sem me conseguir mexer. Depois, veio o sentimento do sublime.

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