Estava perdida nos meus pensamentos, caminhando lentamente sobre a pedra desgastada da doca. Sob o meu olhar, os barcos flutuavam ao sabor da corrente. A tarde esfriava-se, agitando as árvores, na margem, e fazendo-me sentir um arrepio leve por todo o meu corpo. A tua silhueta já se distinguia ao longe, mas não tomei atenção. As velas, sussurradas pelo vento, atraiam o meu olhar, quase me levando a desprender os pés do chão. De repente, fechei os olhos, quebrando aquela hipnose e, então, surgiste na minha frente. E este momento marcou-se na minha memória, como se esta tivesse demorado horas. Mas não. Foi um breve instante que veio e foi num ápice. Olhando agora para trás, consigo lembrar-me de muito mais. Eras pouco mais alto que eu, com um cabelo castanho-claro, de brilho dourado, desalinhado e de tamanho médio. Os teus ombros largos rodeavam-se da tua camisola de malha, verde-caqui, cujas mangas trazias arregaçadas, numa atitude de prontidão que contrastava pacificamente com as mãos nos bolsos das calças de ganga. Esse caminhar calmo assentava na perfeição na tua postura descontraída. As veias dos teus braços faziam-se notar sob a pele claramente bronzeada de um tom dourado. Mas tudo isto surgiu apenas quando percorri a memória desse momento.
Quando passaste por mim, o teu olhar hipnotizou-me, bloqueou a minha mente, faz-me perder a noção de tudo o resto. Os teus olhos... num momento, eram verdes, no outro, castanhos. Uma mistura que, ao reflexo do sol, que se encontrava por trás de mim, fazia salientar o verde de uma forma vibrante. Fiquei presa ao teu olhar, obrigando-me a seguir-te, com o meu olhar. A minha mão, que até então deambulava, numa apreciação à liberdade daquele final de tarde, ligeiramente inclinada e recuada do meu corpo, deslizou tão perto do teu braço que pude sentir os pelos levantarem-se sob as pontas dos meus dedos. Ao sentires esse arrepio, levantaste esses olhos fenomenais ao nível dos meus e fixaste também o olhar. Não parei. Não paraste. Seguimos os nossos caminhos, em direcções diferentes, voltando, finalmente, a cabeça na direcção do corpo.
Fechei os olhos e guardei para sempre aquela recordação na minha mente.
12.08.2009
Sem comentários:
Enviar um comentário