É tão pesado o pensamento
de que somos nós um breve momento,
que somos mar, que somos rosas,
que somos tentativas de versos em prosa.
Perdição maldita do que me fazes crer
entregue a mim, meu devasso amanhecer.
Somos sinais de que tudo se desfaz,
que a voz, finita num verbo, te apraz.
Predador encantado de um mundo que não és,
erras meu caminho, para que esteja a teus pés.
Sou eu.
Sou tu.
Somos nós. Não somos ninguém.
Somos passados de alegrias não vividas,
instigados pelo gosto de vitórias não vencidas.
Somos verdades de um prazer que não existe,
recantos de saudosa maldade a que o ímpeto resiste.
Minha sombra infinita
que arranco do peito,
não cortes a minha realidade.
Deixa-me ser a cura desse teu defeito
que roubo, tenebroso, das garras da vontade.
Perdoa em mim tudo o que haja a não ser
na bruta ostentação do meu permanecer.
Sorri para mim, ó minha doce morte,
que quando me chegares, negra e elegante,
não serei perdida no meu próprio norte.
Encontro em ti um lugar errante
de ser quem sou e de te encontrar, ó sorte.
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