Silêncio. Precisas de paz. Finges que o mundo à tua volta respeita o teu tempo. Contas os grãos de areia que do mar se alevantam, parecendo mais e maiores. São muitos. Somos nós. Mas desfazem-se com o tempo que o mundo não te deu. Nem o vento os transporta, nem tu és capaz de ler neles os teus momentos de felicidade. Foste perda apática de uma parte de ti. Reconheces a existência do vazio, mas não sabes o que lá falta, porque, na verdade, nunca lá esteve. Desconfias a tua própria realidade, o teu espírito, tudo e qualquer coisa que os outros vejam em ti. "Como?", perguntas-te, "como?". Como foi que chegaste aqui, que foste parte de um mundo que ainda não ruiu pelos seus despojos adentro? Ele até cai... mas o tempo, esse mesmo tempo que nunca te deu os bons dias ou te entregou um sorriso em correio azul, é tão lento, tão compassadamente acompanhado pela doença do sono da qual padeces, que nem te dás conta. Vives encontrando perto de ti o som desse algo a que outrora chamaram música. Melodias hipnóticas, malditas! Gravam-se em ti como se de si dependesse a tua vida. E quanto mais lutas, mais se agarram, porque sabem-se encantadoras, maravilhosamente dotadas de um feitiço que há muito te foi negado, essa calma utópica que tanto desejaste e que reconheces de algum recanto perdido da tua memória. Os poetas do mundo nunca te deixaram. Se viraste costas, ninguém te julga. Acolher-te-ão de braço abertos. Ainda assim não somos carnífices. Esses desejos mal encarados foram alimentando corvos, não nós. O cabelo, escondeste-o. Não fosse o nervosismo tomar conta da tua força, era preciso não perder cabelo. O lenço pende mostrando as pontas espigadas como peixes que saltam aleatoriamente sobre o infinito sem mar. Há sempre um lenço que te traz de volta a casa. Há sempre um sorriso que te faz querer viver. Há sempre um olhar que te faz ser melhor. Um sorriso que te pede amizade. Há sempre um pouco de tudo..
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