Jogo de Morte

Sei a estrada em que morres.

Sei o jogo em que lanças os dados,

o jogo em que também eu entro,

jogada por esse teu ego de rei em corpo de vagabundo.

Disseste que não e negaste.

Mas, no momento seguinte, fazes o teu bluff

de perfeito jogador de póquer,

e eu, que de inocente não tenho nada,

mas desconheço as regras deste teu jogo,

obedeço cegamente à minha vez de jogar,

caindo na tua armadilha.

Sei o veneno que te corre nas veias.

A mim, corre um semelhante, maldição,

eterna maldição dos laços, da herança, do legado.

Silencias a minha jogada e afirmas-te.

Não. Não, digo eu.

Quero a minha revolução.

Quero a minha parte.

Desta vez, sou eu quem manda.

Desta vez, sou eu quem escolhe.

Entrego-me à minha condição de jogada no teu jogo

e viro a tua besta contra ti.

E, nesse momento, o medo surge.

Não do meu lado, do teu.

Eu entreguei-me ao "Tudo ou Nada",

já não tenho razão ou medo de perder.

Tu, sim. Vejo o medo do teu olhar

espelhar a confiança do meu.

Sei a carta que ainda tens na manga.

Vais usá-la para me fazer cair no abismo

que eu própria criei.

Quiseste ser o mandatário de tudo.

Quiseste usar-me como arma contra mim.

Esqueceste-te de que eu cresci.

Esqueceste-te de que eu aprendi o teu jogo.

A tua oponente não é mais o peão entregue à sua sorte

no teu diabólico tabuleiro de xadrez.

O jogo avança, vira-se e revira-se.

Já ambos perdemos a vontade de ganhar.

Porquê terminar o que é bom enquanto durar?

As regras mudaram.

Agora, ambos queremos saber do que o outro é capaz,

ambos queremos testar-nos,

descobrir os limites do outro,

percorrer a estrada onde sei que morres

e sobreviver para recordar,

com um gosto de desafio nos lábios,

que, um dia, jogámos

esse jogo de morte, como adversários

e encontrámos aí a vontade de viver.