terça-feira, junho 30, 2009

R.I.P. Pina Bausch

Um adeus repentino a uma das mulheres que mais marcou o nosso tempo.



R.I.P Pina Bausch

(27.07.1940 - 30.06.2009)

domingo, junho 28, 2009

Hipnose Paisagista

Surpreende-me o efeito de tranquilidade que certos locais têm sobre mim. E não apenas o espaço, mas todas as pequenas coisas que dele fazem parte.







Neste caso, o rio Douro, a sua vista a partir da ponte D. Luís. A água, a paisagem d cidade antiga que decora as duas margens, os barcos rabelo perto do cais, o brilho do sol na água ou mesmo a falta dele. Porque é-me indiferente o tempo que faz. Esta paisagem sempre me atinge com um estado de apatia, um desejo de ali permanecer sem que o tempo decorra e aquela paisagem se desvaneça diante dos meus olhos.

E mesmo que para alguns, uma simples regata seja uma seca, eu gostei, apesar da espera... não havia muito vento, enfim. Mas barcos daqueles não se vêm todos os dias e realmente completam a paisagem do Douro.


segunda-feira, junho 22, 2009

Incómodo Vazio

Há demasiado tempo que se apoderou de mim um inexplicável sentimento de vazio. Não que seja verdadeiramente muito tempo, mas demasiado. Apesar do ano que ficou para trás. Apesar das barreiras que transpus, dos objectivos que concretizei, das parvoíces que tenho para relatar do que afirmei ter sido o pior ano de sempre e contudo, tenha sido talvez também o melhor. Foi extremamente marcante, memórias de alguns dos momentos que certamente quererei recordar, nem que seja para me rir ou para dizer que, no fim de contas, tive coragem. Mas isso é o amanhã. O ontem teve bons e maus momentos. Já me atrevo a olhar para trás e sorrir na alma e ver tudo isto de forma que me transpõe alguma felicidade. E o hoje... o hoje não tem nada. Não me leva a querer fazer nada, aquilo com que preencho o meu dia torna-se aborrecido, sem qualquer propósito, o que faço torna-se irrelevante, dou cada vez menos valor a coisas que adorava fazer. E o que é realmente um problema é que eu não tenho grande espaço de manobra para poder alterar esta situação, visto não depender apenas de mim poder alterar isso.

No entanto, não consigo perceber. Considero-me uma pessoa de sorte, alguém com tudo para ser feliz. Não que essa felicidade seja eterna e constante, mas no mínimo é visível e está lá. Ou costumava estar. Porque não me parece que este vazio faça parte do vocabulário de alguém verdadeiramente feliz.

Já nem escrever me anima... E a escrita sim, costumava ser o meu ópio diário, a minha injecção de ânimo e alegria. Agora, nem um vício errante é...

segunda-feira, junho 15, 2009

O derradeiro esforço

Amanha começa a demanda...

exames... -.-'

terça-feira, junho 09, 2009

A força do medo



O medo é maior força que existe. Faz-nos mover.
É graças a ele que, muitas vezes, fazemos coisas que, noutras circunstâncias consideraríamos impossíveis.
É o medo de sofrer um desgosto que nos faz avançar para aquela pessoa e dizer que gostamos dela antes que alguém tenha a mesma ideia.
É o medo de estar só que nos faz procurar alguém.
É o medo de perder algo ou alguém que nos faz lutar por manter esse algo ou alguém.
É o medo de ficar para trás que nos faz seguir em frente.

É o medo de morrer que nos faz viver.

quinta-feira, junho 04, 2009

Menção Honrosa

Já passava da meia-noite quando Rafael se sentou. Estava cansado. Ser empregado de mesa não era propriamente aquilo que desejava, mas, pelo menos, andava perto dos cozinheiros, essa elite de grandes artistas munidos de faca, em vez de pincel, de prato, em vez de tela, de condimentos, em vez de tintas. E era nessa elite que Rafael sonhava integrar-se.
Mas não limitar-se a cozinhar! Criar os sabores, descobrir conjugações perfeitas, levar o cliente ao êxtase com uma simples garfada de comida. Porque não há dois sabores semelhantes, porque não se pode dizer que uma laranja e uma tangerina são parecidas, porque uma uva branca é sempre mais doce que uma preta, mas a que melhor sabe é a uva vermelha. Porque cada sabor se grava na nossa memória como uma chave para uma recordação, como daquela vez em que partilhou a sua suculenta maçã com uma menina tímida, na escola primária, que viria a tornar-se a sua melhor amiga Débora, ou daquela vez em que Simão, o seu irmão mais velho, o levara à Suíça, a provar o melhor dos chocolates, na sua origem, que se derretia lentamente na boca, deixando um sabor que ainda hoje Rafael sabia distinguir.
Assim, o primeiro passo estava dado. Já trabalhava num restaurante. Podia não ser um restaurante de primeira classe, podia não ter atribuídas cinco estrelas, mas era uma restaurante. Enquanto os pedidos dos seus clientes eram executados pelos três cozinheiros, Rafael deambulava pela cozinha, observando as técnicas e devorando as dicas que os simpáticos cozinheiros lhe davam, pois rapidamente se haviam apercebido do seu sonho. E, sobretudo, deambulava sem atrapalhar, quase deslizando entre o fogão e a mesa de preparação dos ingredientes, o que os senhores de chapéu alto e avental até apreciavam: um aprendiz que observasse o seu trabalho, desejando superar os mestres, sem os subjugar.
À noite, ou melhor dizendo, de madrugada, punha essas técnicas em prática, no pequeno apartamento onde morava. Estranhas experiências que até nem tinham mau resultado. Além disso, a janela da cozinha tinha vista directa para um esplêndido pomar de um velhote que de vez em quando passava por lá e lhe oferecia algumas frutas e legumes, em troca de poder ser o primeiro a experimentar os pratos de um futuro grande cozinheiro. Mas Rafael não tinha formação nenhuma. Nem queria. Esses, considerava, eram os verdadeiros génios por trás do avental. Porque tinham o talento agregado ao trabalho. Ninguém lhes ensinava o talento. E Débora considerava-o talentoso. Débora incentivara-o sempre a seguir aquele sonho. E até fora ela que lhe arranjara a entrevista para aquele emprego. Porque, às vezes, também precisamos de um empurrão dos amigos. E lá estava ele, a caminhar em direcção ao sonho de infância, levemente empurrado por Débora.
Mas, por agora, ali estava, sentado numa cadeira do restaurante, com a mão em cima da mesa a apoiar a cabeça cansada, a pensar em todas aquelas coisas. A pensar que amanhã seria outro dia na sua caminhada para a concretização do saboroso sonho. A pensar em mais uma estranha experiência que faria, quando chegasse a casa. A pensar em mais uma recordação, aberta pela chave de um sabor.
Mas, por agora, ali estava, a sair do restaurante sob a noite límpida e estrelada, que o incitava a lutar pelo sonho.

Posto ao Concurso de Contos da ESFV - 2009